Como fazer um artigo acadêmico: principais características
O artigo acadêmico constitui um documento destinado à apresentação em instituições de ensino superior, escolas técnicas e outros estabelecimentos educacionais.
Os diferentes formatos de escrita acadêmica são conhecidos por vários nomes, como ensaio, dissertação, trabalho de investigação, monografia, dissertação argumentativa, análise dissertativa, exposição informativa e texto opinativo.
Independentemente da nomenclatura, todos esses formatos aderem a padrões e diretrizes gerais comuns.
Cada versão do texto em um artigo acadêmico estabelece uma perspectiva que o autor deseja expor ou debater no seu artigo acadêmico, utilizando-se de evidências para desenvolver um ponto específico da sua argumentação.
Portanto, é fundamental que o autor avalie de forma crítica seu tema para persuadir seus leitores sobre suas assertivas.
O que caracteriza um texto acadêmico é, antes de tudo, o seu objeto: ele veicula o fruto de alguma investigação científica, filosófica ou artística. Deve, pois, refletir o rigor, a perspectiva crítica, a preocupação constante com a objetividade e a clareza que são parte inerente da pesquisa acadêmica. Num texto podemos distinguir o conteúdo (idéias, estrutura argumentativa, etc.) da forma (linguagem, disposição dos elementos, etc.). Embora a qualidade de um texto acadêmico dependa fundamentalmente de seu conteúdo, esse conteúdo não poderá ser devidamente compreendido e examinado se a forma que o reveste for deficiente. Assim é que os autores mais representativos de qualquer área da atividade acadêmica sempre primaram também pela excelência dos textos em que registraram sua produção. (Chibeni, 2022, p. 1).
O elemento de maior relevância que o autor deve ter em mente ao fazer um artigo acadêmico é definir claramente o propósito da escrita.
Existem muitos motivos para redigir, que vão desde responder a uma pergunta que o autor selecionou, discutir temas de interesse geral, até sintetizar ou contrapor-se a outras teorias ou pesquisas.
Assim, o autor deve evidenciar seu entendimento claro sobre o como fazer um artigo acadêmico e demonstrar habilidade para pensar de maneira crítica sobre o assunto abordado.
Para escrever um artigo acadêmico, a escrita deve ser precisa e objetiva, embora não hajam regras estritas para a escrita acadêmica, pois varia de acordo com a disciplina.
_a.png)
No entanto, existem características universais que devem ser incorporadas em qualquer texto acadêmico, e o autor deve estar atento a elas para expressar suas ideias com clareza.
Argumentação, análise e evidências são os pilares principais na formatação e escrita de um artigo acadêmico.
Embora a essência da escrita em um artigo acadêmico se altere conforme a área específica, a construção de um argumento é um traço predominante de textos eficazes em diversas áreas. A concepção de argumento difere entre os campos acadêmicos.
Toulmin, Rieke e Janik (1984) explicam o argumento como uma série de proposições e justificativas entrelaçadas que juntas definem o conteúdo e a robustez da tese defendida por um orador particular. De acordo com os autores, também apontam que quatro componentes são essenciais em qualquer argumento: proposições, fundamentações, garantias e respaldos.

Kuhn (2010) descreve argumento como um procedimento de debate, uma cadeia de afirmações concatenadas para fundamentar uma tese e sugerir uma resposta a uma ou mais contraposições; ou seja, envolve adotar uma posição contestável, fornecer evidências e empregar raciocínio convincente para persuadir o público a aceitar (ou ao menos ponderar) sua visão. Um argumento é formado por uma posição, uma exposição organizada logicamente de proposições que estruturam essa posição e uma análise destinada a inspecionar e avaliar o conhecimento sobre o tema. Esses componentes devem ser articulados de maneira lógica.
É no reino epistemológico […] que as diferenças entre argumentação em domínios sociais e científicos podem ser mais significativas. Especificamente, o papel da interpretação humana coloca desafios um tanto diferentes em domínios científicos e sociais. No domínio da ciência, a entrada da interpretação humana no que era anteriormente considerado em termos absolutistas como percepção direta de uma única realidade deve ser entendida em termos positivos: a ciência passa a ser apreciada como uma construção humana e a interpretação como um recurso essencial para o conhecimento. O “filtro” que as mentes humanas representam fortalece o esforço científico. (Kuhn, 2010, p. 821).
Wingate (2012) descreve que as contraposições em um artigo acadêmico são as ideias que contestam a perspectiva do autor. Nesse sentido, é essencial que o especialista demonstre familiaridade com ambas as facetas do debate e apresente razões lógicas para refutar essas ideias antes de expor seu próprio ponto de vista. Para construir um argumento convincente, o autor deve utilizar evidências lógicas e empíricas que sustentem sua tese. As evidências atuam como alicerce para o posicionamento do autor sobre a questão discutida, e é necessário fornecer evidências pertinentes para reforçar seu argumento.
O autor de um artigo acadêmico, portanto, deve organizar as evidências de maneira clara e estruturada para não confundir os leitores. As evidências da investigação podem ser integradas ao texto do artigo acadêmico por meio de citações, paráfrases, gráficos, resumos, e assim por diante (Wingate, 2012).
“É muito importante que você chegue à sua própria conclusão com base nas evidências que apresentou anteriormente. O principal propósito da conclusão é chegar a uma posição final em seu ensaio.” (Wingate, 2012, p. 152).
Bianchi (2019) descreve algumas recomendações técnicas sobre como fazer um artigo acadêmico de forma eficiente:
• Deve ser sintético (máximo doze palavras) e direto.
• Use-o para identificar o tópico, os conceitos mobilizados ou qual é a novidade que sua pesquisa traz.
• Evite: verbos; abreviaturas; jargão; metáforas e expressões desnecessárias como “Breves notas sobre”, “Alguns temas sobre”, “Uma abordagem introdutória a”, etc.
• Use o título para apresentar o tópico. Ex.: “O conceito de Estado em Max Weber”.
• Se o artigo relaciona dois ou mais conceitos use o título para nomeá-los ou afirmar a hipótese sobre como eles se relacionam. Ex: “A cor dos eleitos: determinantes da subrepresentação política dos não brancos no Brasil”.
• Se está descrevendo tendências ou padrões use o o título para nomear as dimensões contrastantes. Ex: “Entre o altruísmo e o familismo: a agenda parlamentar feminina e as políticas família-trabalho (Brasil, 2003-2013)”.
• Se está apresentando um método ou um desenho de pesquisa novo ou aplicando uma técnica em um novo tópico mencione o método e o tópico no título. Ex.: “Confiança nas Forças Armadas brasileiras: uma análise empírica a partir dos dados da pesquisa SIPS – Defesa Nacional”. (Bianchi, 2019, p. 10-11).
A maioria dos pesquisadores faz uma distinção entre duas classes de evidências: fontes primárias e secundárias.
Fontes primárias constituem os materiais originais e podem englobar documentos autênticos, diários pessoais, imagens, levantamentos oficiais, informações experimentais, entre outros.
Já as fontes secundárias representam as interpretações ou análises realizadas por outros acadêmicos ou especialistas.
Tanto publicações impressas – livros – quanto eletrônicas – revistas e jornais online, por exemplo – servem como meios para a obtenção de evidências para o desenvolvimento do artigo acadêmico.
É fundamental que o autor saiba examinar as evidências de forma aprofundada. Não basta apenas apresentar fragmentos de evidências no artigo acadêmico sem elucidar seu significado e papel dentro do texto.

O autor necessita explorar a conexão entre cada fragmento de evidência e o tema abordado, bem como deve explicar como cada fragmento de evidências sustenta sua perspectiva.
Alguns autores, em determinadas circunstâncias, presumem o conhecimento prévio dos leitores e supõem que estes compreendam suas intenções.
Embora os leitores possam estar a par das ideias debatidas, eles não conseguirão associar as evidências ao ponto de vista do autor sem uma explicação adequada.
Portanto, é necessário que o autor reflita sobre a importância de cada evidência e suas implicações. O autor de um artigo acadêmico deve questionar, por exemplo, qual é a relevância da evidência, quais são as implicações sobre o uso dessa evidência, entre outros questionamentos relevantes nesse contexto investigativo.
É aconselhável ilustrar os conceitos com exemplos para facilitar o entendimento. Ademais, o autor deve elaborar uma conclusão para cada fragmento de evidências a fim de evitar ambiguidades entre os leitores. Essa análise deve ser realizada mediante uma metodologia apropriada, de acordo com a linha de pesquisa e os objetivos definidos no artigo acadêmico.
REFERÊNCIAS:
BIANCHI, Alvaro. Como escrever um artigo acadêmico. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas – IFCH/UNICAMP, 2019. Slide. 34 p. Disponível em: https://www.ifch.unicamp.br/ifch/pf-ifch/public-files/pos-graduacao/edital-resultado/como_escrever_um_artigo_academico_-_prof._alvaro_bianchi.pdf. Acesso em: 15 jan. 2025.
CHIBENI, Silvio Seno. O texto acadêmico. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Repositório de Informação Acessível, 2022. Disponível em: https://ria.ufrn.br/jspui/handle/123456789/2323. Acesso em: 15 jan. 2025.
KUHN, Deanna. Teaching and learning science as argument. Science Education, [s.l.], v. 94, n. 5, p. 810-824, sep. 2010. DOI: 10.1002/sce.20395. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1002/sce.20395. Acesso em: 15 jan. 2025.
TOULMIN, Stephen; RIEKE, Richard; JANIK, Allan. An introduction to reasoning. 2. ed. Pearson, 1984. 435 p. ISBN-10: 0024211605. ISBN-13: 978-0024211606.
WINGATE, Ursula. ‘Argument!’ helping students understand what essay writing is about. Journal of English for Academic Purposes, [s.l.], v. 11, n. 2, p. 145-154, jun. 2012. DOI: 10.1016/j.jeap.2011.11.001.
Publicar comentário